quarta-feira, 9 de outubro de 2013

"Cheguei a escrever aos prantos", diz autora de "José do Egito", da Record

TELEVISÃO

http://natelinha.ne10.uol.com.br/imagem/noticia/53b39842874e63b9cb8929c2f0fa7588.jpgJacó (Celso Frateschi) reencontra José (Angelo Paes Leme) no último episódio - Fotos: Divulgação/TV Record
* Com João Gabriel Batista


No ar desde o dia 30 de janeiro e após 37 episódios, a minissérie "José do Egito" chega ao fim na noite desta quarta (09) na Record.

Em seu desfecho, Jacó (Celso Frateschi) e sua família caminham em direção à Avaris, com grande expectativa de reencontrar o filho perdido. De longe, Benjamin (Gustavo Leão) logo avista José (Angelo Paes Leme) e trata de comunicar ao restante de seus irmãos, deixando-os muito empolgados.

Jacó não aguenta esperar e caminha com pressa em direção a José, que também vê o pai. O reencontro finalmente acontece e lágrimas escorrem de seus olhos, tanto do pai quanto do filho. Os dois se contemplam em um abraço demorado, cheio de amor e saudades.

A trama foi produzida com base na Bíblia, mas muitas histórias também foram criadas pela autora Vivian de Oliveira, que se especializou em minisséries na Record - ela também assinou "A História de Ester" e "Rei Davi", e já foi confirmada nas próximas produções da emissora, "Os Dez Mandamentos" e "Jesus".

Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, Vivian falou sobre o árduo trabalho com "José do Egito", comparou as outras minisséries, falou sobre as próximas tramas e comentou sobre a emoção de escrever tais histórias.

"Todas elas impactaram muito minha vida pessoal. Cheguei a escrever aos prantos", contou.
Confira a entrevista na íntegra:

NaTelinha - "José do Egito" chega ao fim após quase 9 meses em cartaz e como a minissérie mais longa da história da Record. Que saldo faz desta adaptação?

Vivian de Oliveira -
 Em "José do Egito" tive mais tempo para aprofundar as relações entre personagens e trabalhar melhor os conflitos. O público teve mais tempo também para conhecer, se envolver e se apaixonar pela história. Não que nas outras minisséries isso não tenha acontecido, mas em "José" as tramas foram se desenrolando com mais calma. Em "Rei Davi", por exemplo, tinha muita trama para poucos capítulos. Já "José" é uma trama relativamente curta para muitos capítulos. Foi necessário contar a história de maneira diferente, até porque não havia guerras e grandes eventos para mostrar. O forte de "José" foi realmente o drama humano.
 

NaTelinha - Você já escreveu "A História de Ester" e "Rei Davi". Qual análise tem da experiência ganha neste período?

Vivian -
 "A História de Ester" era uma história linear, sem grandes saltos no tempo, muito romântica e tinha uma grande heroína como protagonista. Como foi a primeira, ainda estava descobrindo a melhor forma de adaptar um texto bíblico de um período tão remoto para a teledramaturgia atual. Optei por uma linguagem mais rebuscada, formal e na época funcionou muito bem. O público ficou encantado.

Depois veio "Rei Davi", que era uma história muito masculina, politizada e com um anti heroi comandando uma trama cheia de guerras e conspirações pelo poder. Tinha muitos personagens masculinos e poucas mulheres. O grande trunfo nesse caso foi criar mulheres fortes e atuantes. Por ser polêmico, Davi despertava no público simpatia e compaixão em alguns momentos, e ódio em outros. Foi maravilhoso poder trabalhar isso, mostrar o ser humano como ele é, com sombras e luzes. Em "Rei Davi" optei por usar uma linguagem mais naturalista, coloquial, o que foi um salto na narrativa. Isso aproximou o público da minissérie ainda mais.

"Rei Davi" tinha o tom de épico, era uma história grandiosa. Costumo dizer que "Rei Davi" tinha três minisséries e um filme de longa-metragem dentro da mesma minissérie. A cada dez, quinze capítulos, surgiam novos personagens e novas tramas. Mostramos Davi desde a juventude até sua velhice e morte. Aprendi a pensar mais como produtora fazendo "Rei Davi".

E, por fim, "José do Egito" é uma minissérie construída a partir de um heroi clássico, sem máculas, e uma história recheada de dramas humanos. Esse foi o maior trunfo de José. Foi um desafio contar uma história centrada apenas nos personagens e fazer com que o público se importasse com eles. Já dominava melhor a linguagem coloquial em "José" e já tinha também maior entendimento do que era viável ou não, do que funcionava ou não. Também optei por não ter muitas tramas paralelas. O foco principal foi realmente José e o que acontecia em volta dele. A chegada do Egito também trouxe um frescor, veio como uma novidade.

O que posso dizer é que cada minissérie me ensinou muita coisa e fui me aprimorando cada vez mais. Não só eu, mas todos os outros departamentos envolvidos como figurino, arte, cenografia, e assim por diante.
 

Vivian de Oliveira vem escrevendo várias minisséries bíblicas na Record

NaTelinha - Por serem versões feitas para a TV, alguns personagens e situações são criados. Como é trabalhar neste sentido de forma que se mantenha a linearidade da Bíblia e sem ofender ou espantar os telespectadores que leram a história original?

Vivian -
 O que faço é dosar muito bem as duas coisas. Sou muito rigorosa em não deturpar o texto original. Crio onde existem brechas na história bíblica. Por exemplo, na Bíblia a personagem Azenate é citada muito brevemente. Ali diz que faraó dá Azenate como esposa para Zafenate Paneia (nome egípcio recebido por José) e que ela é mãe dos dois filhos de José. Considerando esses dados, criei um história de amor entre Azenate e José. Na minissérie, eles se conhecem no instante em que José, ainda adolescente, coloca os pés no Egito. Por conta de suas posições sociais e crenças religiosas, o amor entre eles se torna impossível. Eles passam grande parte da minissérie sofrendo e lutando por esse amor, mas nada do que foi criado fere o que está na Bíblia. A história vai sendo construída até chegar o momento em que ela é dada como esposa para José exatamente como está no texto bíblico.

O mesmo aconteceu com Pentephres, pai de Azeanate. Em muitas versões, o nome Pentephres aparece como Potífera. Escolhi o nome Pentephres para não confundir com Potifar, outro personagem importante na trama. Na Bíblia, Pentephres só é citado como pai de Azenate e sacerdote de Om. Ali não diz se ele era bom ou mau, ambicioso ou não. Usei a informação bíblica e o mantive como pai de Azenate e sacerdote. O restante foi tudo imaginação. Ele foi mostrado com um homem corrupto, capaz de tudo para se manter no poder. Isso ajudou a dificultar o amor entre José e sua filha, o que foi um ótimo conflito para a minissérie.

A mulher de Potifar também entra nesse mesmo raciocínio, assim como muitos outros personagens. Na Bíblia, também está indicado que os irmãos odiavam José. Mas odiavam como? Baseado nisso, criei situações para mostrar como esse ódio se dava, quando começou e como foi evoluindo até chegar ao ponto dos irmãos venderem José como escravo. E depois que venderam, como foi o tormento da culpa, do remorso? E o que aconteceu com José ao chegar no Egito? Todos esses questionamentos e muitos outros me ajudaram a desenvolver os personagens e conflitos de toda a minissérie.
 

NaTelinha - A Record tem investido cada vez mais na dramaturgia e as minisséries bíblicas foram as que mais viram este crescimento a ponto de escalar seu principal diretor e o maior orçamento para "José do Egito". Como vê esta decisão da casa?

Vivian - 
A Record descobriu um nicho e se especializou nisso. A decisão de investir cada vez mais no produto se deve ao retorno maravilhoso do púbico. As minisséries conseguiram fidelizar um público diversificado. Ela atrai tanto crianças como idosos, mulheres como homens, independente do credo religioso. Judeus, muçulmanos, evangélicos, espíritas, ateus, enfim, todos fazem parte do público das minisséries, porque não estamos fazendo pregação e sim contando ótimas histórias, que podem ser vista por toda a famíia.


NaTelinha - "José do Egito" começou em janeiro e chega ao fim em outubro. Neste período, três novelas foram exibidas ("Balacobaco", "Dona Xepa" e "Pecado Mortal") e "José" teve audiência superior às três. Ao que credencia este sucesso?

Vivian -
 Não gosto de fazer comparações, são produtos diferentes. É preciso avaliar muitos critérios que influenciam direta ou indiretamente a audiência. O que posso dizer é que as minisséries conseguiram fidelizar uma fatia importante do público e isso foi sendo construído aos poucos desde a primeira.


NaTelinha - Após três minisséries de êxito, pretende voltar às novelas? Há planos para emplacar um projeto solo?

Vivian - 
O meu plano é continuar escrevendo. No momento, já estou escalada para escrever duas minisséries: "Os Dez Mandamentos" para 2015 e "Jesus" para 2016. Não penso em novelas por enquanto, mas tudo pode acontecer.


NaTelinha - Trabalhar com histórias bíblicas é uma tarefa complexa e que exige uma grande carga emocional. Dentre as três produzidas, há alguma fala, cena ou situação que te marcou?

Vivian - 
Muitas situações, cenas e falas me marcaram, difícil pensar numa só. Em todas as minisséries, pedia a Deus que me inspirasse. Muitas vezes, escrevi bastante emocionada.

Em "José", a mais recente, cheguei a escrever aos prantos. Todas elas impactaram muito minha vida pessoal também. As histórias me fizeram refletir sobre certas questões que inquietavam meu coração. Em "José", por exemplo, estava vivendo um conflito grande por causa de uma pessoa que eu prezava muito e que agiu de forma desleal comigo. Fiquei arrasada, muito decepcionada mesmo. Mas como poderia manter esse sentimento depois de escrever sobre o perdão? Claro, acabei perdoando essa pessoa, influenciada pela postura de José.

Também aprendi a não ter medo de recomeçar com Davi, a confiar mais em Deus e depender Dele para vencer os Golias que surgem em nossa vida o tempo todo.
 

Marcos Pitombo e Gabriela Durlo protagonizaram "A História de Ester",
enquanto "Rei Davi" foi estrelado por Leonardo Brício

Com Ester, aprendi, entre tantas coisas, o que um ato de fé é capaz. As minisséries tratam de temas que falam fundo na alma de qualquer ser humano. Nos dias de hoje, temos deixado muitas questões do nosso íntimo mal resolvidas. Muitas relações são superficiais e isso nos atinge de alguma forma. As minisséries mostram personagens vivendo intensamente. As pessoas eram capazes de morrer por sua fé, por honra, por um amigo, por um grande amor. As emoções eram extremadas. Isso tudo nos comove, já que colocam o dedo em muitas feridas que temos e não tratamos.


NaTelinha - Você já foi escalada para escrever a minissérie de Moisés, que foi adiada, e também uma outra sobre a vida de Jesus Cristo. Os trabalhos relacionados a elas, como pesquisa, texto, escolha de elenco e definição de diretor já começaram?

Vivian - 
Moisés, que será chamada "Os Dez Mandamentos", será dirigida pelo Spinello, e Jesus pelo Avancini. Estamos focando na primeira delas, por enquanto. As pesquisas e sinopse para "Os Dez Mandamentos" já estão bem adiantadas, mas ainda estamos no início do projeto.


NaTelinha - "José do Egito" começou com bons índices mas se enfraqueceu no decorrer de seu caminho devido à Copa das Confederações, voltando a subir tempos depois. Acredita que a escolha da emissora pela exibição semanal em detrimento de três ou quatro capítulos por semana foi a mais adequada?

Vivian - 
Não sei dizer. Muitas pessoas reclamam, pedem que a minissérie seja exibida em mais dias, mas, ao mesmo tempo, o sucesso se manteve ainda que tenha sido exibida somente às quartas.
 

 
Fonte: Natelinha

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